As instituições governamentais, em seus comunicados solenes, emitem uma enérgica advertência acerca da prática da benevolência individual. Com efeito, a filantropia pessoal está experimentando uma notória decadência. Os frutos da compaixão humana não devem ser entregues diretamente ao desafortunado, mas sim destinados às Organizações Não Governamentais e às entidades públicas, a fim de sustentar seus quadros funcionais e dirigentes, financiar movimentos políticos e suportar despesas relacionadas a aluguel, administração, propaganda e transporte. Ao final desse processo, se algo remanescente estiver disponível, este pode ser convertido em sopas distribuídas aos desfavorecidos, perante as lentes das câmeras, em nome da exaltação de um político.
Neste rincão da nação, subsistem indivíduos que abominam a corrupção oficial. Contudo, permitam-me declarar que minha aversão se direciona à caridade institucional.
Há aqueles que argumentam: "Mas se entregarmos dinheiro ao necessitado, ele o dissipará em álcool na primeira esquina!". Se assim desejar, que o faça! Assim que a quantia está em seu poder, ela lhe pertence. Pretendem instruir o desvalido nos caminhos da cidadania, mas, de antemão, negam-lhe o direito de dispor de seu dinheiro a seu bel-prazer? Almejam educá-lo, sem antes reconhecê-lo como um cidadão livre que, afligido pela penúria, possui o direito de se embriagar tanto quanto o faria, com as devidas adaptações, um banqueiro insolvente? Desejam instruí-lo, impondo-lhe a ultrajante mentira de que sua pobreza configura uma forma de menoridade, uma inferioridade biológica que o incapacita para administrar os três ou quatro reais que lhe foram concedidos como esmola? Não! Se desejam educá-lo, devem começar pelo mais elementar: ser civilizados. Tratar o necessitado com respeito, chamá-lo de "senhor" ou "senhora", indagar sobre sua moradia, se o valor que lhe foi conferido é suficiente para proporcionar abrigo, perguntar se carece de alimento, medicamento ou amizade. Realizem isso diariamente e, em um período de três meses, testemunharão o mencionado indivíduo emergir da condição miserável, endireitar a postura, buscar uma ocupação e, por fim, alcançar o sucesso.
Trecho adaptado do texto original "Pobreza e grossura", de Olavo de Carvalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário